Alunos do 4º, 5º e 6º ano do ensino fundamental e da Educação de Jovens e Adultos – EJA que queiram participar da 6ª edição do Concurso Tempos de Escola, uma iniciativa do Instituto Votorantim, deverão
produzir um texto epistolar a partir do tema “Venha conhecer a minha
terra: carta de apresentação da cidade que ensina”. O concurso irá
reconhecer alunos e professores orientadores da rede pública de ensino
dos municípios que fazem parte do projeto Parceria Votorantim pela Educação.
Segundo o regulamento,
a carta redigida pelos alunos deverá ter um destinatário específico
(que supostamente não conhece a cidade) e apresentar atrações do
município que ofereçam possibilidades de aprendizagem sobre a história, a
cultura, as atividades econômicas e as tradições locais, entre outros.
Os alunos poderão destacar paisagens, costumes e pontos turísticos.
Para reunir informações sobre o gênero epistolar e dicas sobre como os participantes do Concurso Tempos de Escola podem se preparar para redigir o texto, o Blog Educação
conversou com a doutora em Linguística Portuguesa, pesquisadora na área
de Epistolografia e diretora do departamento de Humanidades da Universidade Aberta de Lisboa, Isabel Roboredo Seara.
Segundo a especialista, na perspetiva da análise do discurso, várias
sequências compõem o texto epistolar. “As sequências de abertura incluem
indicações do espaço e do tempo, saudações e cumprimentos. Já as
sequências transacionais correspondem ao corpo da carta e se relacionam,
tradicionalmente, com a primeira parte ou o final do discurso e, no
caso em questão, constituem o cerne da carta de apresentação da cidade
ao leitor. Por fim, estão as sequências fáticas de fechamento, com as
fórmulas de despedida, o encerramento, normalmente assegurado pela
assinatura”, explica.
Uso do texto epistolar no cotidiano
Para quem pensa que o gênero epistolar se restringe à velha carta
escrita à mão, Seara lembra que o suporte pode ter mudado, mas a
necessidade de comunicação continua, reinventada em formatos como o
eletrônico. “Para preencher a ausência de amigos ou familiares,
escrevemos uma carta; para pedir informações sobre este ou aquele
serviço, escrevemos uma carta, seja na versão tradicional ou eletrônica [e-mail].
Em algumas situações, tomamos conhecimento de cartas abertas, em que se
denunciam situações gritantes de injustiça na nossa cidade ou país, em
outras, recebemos cartas de propaganda nas nossas caixas de correio. Na
infância, escrevemos cartas ao Papai Noel, na juventude, escrevemos
cartas de amor e na idade adulta, cotidianamente, usamos a carta como
dispositivo de comunicação”, diz a especialista.
Redação da carta para o concurso
Segundo Seara, antes de iniciar a escrita, é preciso conhecer o tema
sobre o qual se deseja falar. “O aluno deverá conhecer bem o tema sobre o
qual vai escrever, pois se a finalidade é, sobretudo, informativa e
persuasiva, será preciso conhecer algumas estratégias para conseguir a
adesão do leitor”, orienta.
Ela também salienta que o grau de familiaridade determina a
composição e redação da carta. “Na abertura, a escolha da forma de
tratamento [Você/ Vossa Excelência/ Senhor Presidente/ Prezado colega] é
condicionada pela distância social que, sendo mais próxima, permite
formas mais coloquiais ou até mais íntimas e, sendo mais distante, exige
formas de tratamento mais formais ou mesmo de reverência”, observa.
Apresentação do município
Ainda de acordo com Seara, o aluno poderá descrever sensações e
momentos capazes de tornar a passagem do visitante pela sua cidade
inesquecível. “A carta de apresentação do município deverá respeitar, de
forma similar, aos anúncios publicitários, formas de sedução e
persuasão do visitante, deverá apelar às emoções e aos sentimentos,
apontando não apenas os monumentos ou lugares aprazíveis que merecem a
visita”, afirma.
Referências para os professores
Para auxiliar os professores, Seara indica o artigo, A arte de escrever cartas e a sua aplicação nas práticas escolares, da professora Maria Lúcia da Cunha Victorio de Oliveira Andrade, da Universidade de São Paulo – USP. A especialista também cita um trecho retirado do livro Carta ao Futuro (1985), do escritor português Vergílio Ferreira. “Meu
amigo: Escrevo-te para daqui a um século, cinco séculos, para daqui a
mil anos… É quase certo que esta carta te não chegará às mãos ou que,
chegando, a não lerás. Pouco importa. Escrevo pelo prazer de comunicar.
Mas se sempre estimei a epistolografia, é porque é ela a forma de
comunicação mais directa que suporta uma larga margem de silêncio;
porque ela é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente
o monólogo. Além disso, seduz-me o halo de aventura que rodeia uma
carta: papel de acaso, redigido numa hora intervalar, um vento de acaso o
leva pelos caminhos, o perde ou não aí, o atira ao cesto dos papéis e
do olvido, ou o guarda entre os sinais da memória”.
Por Pamella Indaiá / Blog Educação
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